quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Cultura e racismo

Cultura e racismo.
A disputa no campo da "cultura" e dos "saberes" tem tudo a ver com uma crítica e revisão da ação do Estado em suas máquinas de guerra contra uma população específica no interior de um "todo mais amplo" da população. Como não conseguem ver que o racismo cultural/epistêmico é ele mesmo "condição de possibilidade" dos genocídios em curso no Brasil? Num país em que Cultura já foi (ainda é?) política de Estado pensada enquanto questão de Segurança Nacional. Num país em que se aponta cada vez mais a importância da questão das representações raciais nas novelas e outros registros midiáticos. Como não ver uma relação entre a produção da imagem que se constrói sobre um grupo com a produção da qualidade de vida desse grupo? O poder da ficção, da representação é enorme. Não é automático, causal, de uma "manipulação absoluta e total", mas é um poder considerável! E no entanto, parece que permanece "impensado" na trajetória de alguns...
Sobre os usos localizados das teorias.
Apontar o "essencialismo" só no outro indica o limite da crítica. Falar da reivindicação de "autenticidade" ou de "originalidade" apontando para um "passado" europeu isolado em si mesmo e já superado em termos dessa reivindicação, ao mesmo tempo em que se atribui sua permanência contemporânea (estando ela "correta" ou não) apenas aos grupos que se colocam desde o lugar das diásporas africanas me parece problemático. Isso é esquecer que a produção de autenticidade não ganha existência apenas através de discursos e falas explícitas nesses termos. Sua manutenção é bem mais "sutil", até certo ponto. A crítica ao "essencialismo branco" e à "episteme branca" é uma das condições de possibilidade de desarmar a maquinaria de morte do Estado.
PS: Perdão a fala em termos tão sei lá "iniciáticos", mas isso é parte de uma revisão de minhas próprias percepões teórico-políticas desses temas. A leitura de bell hooks tem sido nesse sentido muito importante.

[publicado por mim originalmente no facebook dia 14/02/2017, o contexto desse comentário é o debate em torno do termo "apropriação cultural"]