sábado, 9 de julho de 2016

Acusar os acusadores?

Há uns dias compartilhei essa frase do Nietzsche: "Não quero acusar, não quero nem mesmo acusar os acusadores". Ontem tava pensando o quanto que "acusar os acusadores" é algo muito perigoso, arriscado, problemático. Se o consenso estabelecido já institui algumas autoridades capazes de acusar quase livremente quem quer que seja, então o ato de criticar as autoridades instituídas com o fim de "acusar" vai ser em geral mal visto, visto com suspeita, visto com acusação. Quem ousa acusar os acusadores? Quem ousa criticar administradores da vida que têm o monopólio da acusação? Pensemos na Polícia, que tem o poder de identificar e solicitar a identificação de indivíduos e grupos, regular suas ocupações e atividades, seus movimentos, seus passos, seus gestos, sua cor, seu gênero, sua classe, etc. Pensemos também no Judiciário, nas instituições escolares, universitárias, hospitalares, etc. Todos estão armados para serem "bons acusadores". Ir contra isso é, no mínimo, suspeito. Lembro de um pedaço da Bíblia que falava que nossa justiça tinha que ser "mais justa" que a dos "mais justos". "Mais justos" como referência aos fariseus, que podem aqui ser pensados como um grupo mais ou menos instituído e frequente usuário do poder acusatório sobre os pequenos desvios e pequenos detalhes da conduta de cada indivíduo. Quando Jesus fala que nossa justiça deve exceder a Justiça instituída, penso numa justiça não acusatória, uma justiça que recusa acusar. Como levar isso adiante, para além de um registro individual?

[coisas que a gente posta meio do nada naquela rede social fechada...]