quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Carta ao Pastor Ezequiel Teixeira

CARTA AO PASTOR EZEQUIEL TEIXEIRA, NOVO SECRETÁRIO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL E DIREITOS HUMANOS
Ao pastor,
Meu nome é Ronilso Pacheco, e sou evangélico também. Soube com preocupação da sua nomeação para esta importante pasta. Preocupação porque o senhor sabe que não deveria estar aí, e sabe mais ainda que só chegou aí fruto de uma manobra política.
Isso já seria motivo suficiente para o senhor, sendo evangélico de fato, não aceitar o convite para assumir o cargo.Uma vez que o convite não está vinculado a sua experiência, mas a interesses do jogo de poder, se o senhor aceita, é porque também está interessado no jogo de poder e não no que pode servir a sociedade a partir daí.
Gostaria que o senhor soubesse que esta Secretaria não é a sua Igreja, e que, portanto, sou um dos também evangélicos que estarão permanentemente de olho na sua gestão e em qualquer tentativa de beneficiar interesses que pensem apenas nas igrejas e nos evangélicos, privando a sociedade (sobretudo os grupos sociais mais marginalizados e destituídos de direitos) de voz e de espaço digno na esfera pública.
Não esqueci o seu apoio à redução da maioridade penal, o que constitui uma vergonha, vindo de um pastor, que ignorou o ECA e semeou a desesperança na recuperação de adolescentes que cometeram ato infracional.
Não esqueci o seu vergonhoso voto que negou o reconhecimento do conceito de família para pessoas do mesmo sexo, chamando de "desarranjo familiar" e de "anarquia". Em qualquer Estado sério, o senhor não teria legitimidade para ocupar esta secretaria, uma vez que sequer tem a humanidade necessária para reconhecer que a experiência familiar não se resume ao seu mundo, à sua religião e à sua própria família.
Mas aí o senhor está. Então, pastor, vigia, mas vigia muito. Nós vamos acompanhar seus passos, suas medidas, suas decisões, suas entrevistas, suas declarações.Vamos exigir seu posicionamento toda vez que ignorar direitos de outros, em nome de interesses seus e do seu grupo. Vamos querer audiência com você, vamos te cobrar. Se não nos receber, estaremos te esperando na porta da sua Igreja. Seremos como João Batista, como Jeremias, e não daremos trégua.
Por fim, minha oração pelo senhor é que o senhor perca o sono. Que a violência que acomete os pobres, que as violações do Estado, que os direitos humanos pisoteados nas favelas e nas periferias não saiam da sua consciência e não lhe deixem dormir em paz até que o senhor queira dar a elas a devida atenção, como a viúva pobre, como Rispa.

Rio de Janeiro, 16 de Dezembro.
Ronilso Pacheco 


(extraído do facebook)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Indústria cultural/racismo cultural

Tô eu aqui numa luta enorme com o conceito de Indústria Cultural, pra poder trabalhá-lo legal com os estudantes. É interessante e tal, mas em si mesmo e sobretudo no efeito que seu uso gera, acabo vendo um tipo de crítica social muito conservador. Ainda assim, a crítica marxista por ele repatriada ajuda a pensar a cultura como algo não neutro, mas sempre fruto de investimentos pesados. A máquina industrial que investe na e produz a cultura é mesmo um "fato inegável".
Mas vejam esse trecho de Adorno/Horkheimer: "O amor funesto do povo pelo mal que a ele se faz chega a se antecipar à astúcia das instâncias de controle". Isso me remeteu à crítica que Frantz Fanon faz ao pensamento que acaba por legitimar a colonização ao sugerir a existência de um "complexo de inferioridade" do colonizado, isto é, uma predisposição em ser colonizado que seria inerente ao colonizado. Obviamente, Fanon mostra de que maneira essa perspectiva é racista. Aqui, um encaminhamento possível seria pensar o "efeito Indústria Cultural" no pensamento social como (re)alimentador de todo um racismo cultural. Tirem suas próprias conclusões.  

(Dia 13 de novembro de 2015, no Facebook)

Punitivismo/moralismo de #meuamigosecreto?

E se a tendência em ver punitivismo em tudo já não for uma estratégia punitivista? A crítica ao "punitivismo" das feministas pode acabar sendo lida como tentativa de desautorização (pra não usar o termo "silenciamento") de uma luta que é em si mesma um acontecimento incomensurável. Ainda mais quando essa crítica "bem intencionada" vem do lugar "masculino". É preciso ter muito cuidado e fazer muita autocrítica para emitir opiniões contra ou a favor um movimento que não precisa da minha voz. Digo isso enquanto homem e branco e aqui já cometi um "deslize" por me manifestar,  mas achei necessário expressar o quanto estou aprendendo no meu canto com a campanha #meuamigosecreto. Um acontecimento! Negar sua força seria, no mínimo (no mínimo), ingênuo. Como não existem inocentes... erra só quem quer!

(27 de novembro de 2015, no facebook)

Retorno

Tenho andado distante da blogosfera. Parece que fui engolido pelas ferramentas mais dinâmicas do Twitter e sobretudo do Facebook. Tenho também escrito algumas coisas autorais e mais extensas para a Novos Diálogos. Como muita coisa (micro -textos) que posto no facebook e que julgo interessante se perde, vou tentar usar de novo este espaço para um registro dessas interações que ocorrem nesses outros espaços.