terça-feira, 13 de novembro de 2012

Mais um artigo publicado

Hoje comemoro a publicação de um artigo meu na revista Cadernos de Ética e Filosofia Política (USP).

O artigo Resistência e revolução no pensamento de Michel Foucault: contracondutas, sublevações e lutas é parte da minha pesquisa de mestrado.


Resumo: O artigo pretende contribuir para a compreensão da análise de Michel Foucault sobre a relação entre formas de exercício de poder e formas de resistência. A questão da resistência é tomada como fio condutor para analisar uma série de noções como: revolução, relações de poder, “contracondutas”, sublevações e lutas. Este estudo sobre a  resistência permite discutir a questão da subjetividade nas sociedades contemporâneas, a partir de uma perspectiva foucaultiana.

Palavras-chave: revolução – resistência – “contracondutas” – sublevações – lutas.

O artigo pode ser acessado aqui

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

EBI com MESTRE JONAS, 5 anos atrás!


Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB)
EBI – UERJ – 3º andar – 12/12/2007 – 17h
Introdução
            Nossa sociedade cada vez mais aprimora seus meios de comunicação. Televisão, rádio, internet, MSN, ORKUT, etc. As pessoas parecem carecer insaciavelmente de comunicação. Digamos que parecem carecer de palavras de comunicação. São comunicações e mais comunicações, mas que não expressam qualidade de relacionamento. Os cristãos são chamados a proferir mais do que apenas palavras de comunicação, mas palavras de comunhão.

Leitura do Texto Bíblico Mateus 12: 38-42
Então alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal.
Mas ele lhes respondeu, e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém, não se lhe dará outro sinal senão o do profeta Jonas;
Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra.
Os ninivitas ressurgirão no juízo com esta geração, e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas.
A rainha do meio-dia se levantará no dia do juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é maior do que Salomão. 
  1. O que os escribas e fariseus querem de Jesus?
  2. Eles querem real comunham com Jesus, ou que ele apenas comunique algo a eles?
  3. A que sinal então Jesus se refere para responder às demandas dos fariseus?
  4. Que momento da vida de Jonas é retratado?
  5. O que significou, para Jonas, estar 3 dias no ventre do peixe? E o que significou tal fato para Jesus?
  6. E nós? Em algum momento ficamos no ventre do peixe?
  7. O quê na nossa vida pediu isso em algum momento, e o que ainda pede? (Reflitamos um pouco internamente)
  8. Como encaramos ficar no ventre do peixe hoje, sabendo que Jesus já o fez também e, de certo modo, no nosso lugar, quando morreu na cruz?

“... askesis... é uma imersão num ambiente onde nossas capacidades são reduzidas a nada ou quase nada e ficamos à mercê de Deus para que ele possa moldar sua vontade em nós.” (Do livro de Eugene Peterson, A vocação espiritual do pastor, pág. 89, Ed. Textus)


Contato UERJ: abu.uerj@gmail.com          ABUB: www.abub.org.br        FALE: www.fale.org.br

Mestre Jonas (Sá, Rodrix, Guarabyra)

Dentro da baleia mora mestre Jonas,
Desde que completou a maior idade,
A baleia é sua casa, sua cidade,
Dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho.
E ele diz que se chama Jonas,
E ele diz que é um santo homem,
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria,
E ele diz que está comprometido,
E ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia,
Até o fim da vida,
Até o fim da vida.
Dentro da baleia a vida é tão mais fácil,
Nada incomoda o silêncio e a paz de Jonas.
Quando o tempo é mal, a tempestade fica de fora,
A baleia é mais segura que um grande navio.
E ele diz que se chama Jonas,
E ele diz que é um santo homem,
E ele diz que mora dentro da baleia por vontade própria,
E ele diz que está comprometido,
E ele diz que assinou papel,
Que vai mantê-lo dentro da baleia,
Até o fim da vida,
Até o fim da vida,
Até subir pro céu.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                         

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Jumentinhos na Avenida Brasil




Roteiro que elaborei para o momento de "reflexão/debate/formação" do Encontro FALE-RJ do dia 11 de agosto/2012. Para entrar em contato com o pessoal do FALE-RJ: redefale.rj@gmail.com

Jumentinhos na Avenida Brasil (reflexões sobre o cap. 1 do livro Um jumentinho na avenida de Marcos Monteiro)

  • Teologia/fé e cultura/vida
“qualquer pastor [...] se sente tão anacrônico quanto um jumentinho puxando uma carroça em plena avenida [...] uma carroça (chamada igreja) cheia de objetos velhos e móveis usados. [...] repete as atividades dos jumentos de todos os tempos [...] seu anúncio anacrônico é triunfalista.” (p. 11)

"A melhor imagem para descrever a difícil tarefa da Igreja atual diante dos desafios da cidade seria compará-la ao ato de transferir uma montanha para o centro de uma grande cidade. A pergunta pastoral seria: Como relacionar o Sermão da Montanha – cerne e coração do evangelho –, com sua paisagem rural e antiquada, às igrejas contemporâneas e urbanas? Apesar de sermos urbanos, nossa mensagem é antiga e rural, nossa teologia é antiga e rural, nossos cânticos são rurais e nossa estrutura ainda reflete um mundo rural. Afirmamos que a fé capaz de remover montanhas é do tamanho de um grão de mostarda, mas a maioria de nós nunca viu um grão de mostarda nem imagina que a mostarda é uma planta. A única mostarda que conhecemos é a que usamos no molho do hot-dog.” (p. 86)

  • Olhares sobre a cidade/andar na cidade
- Visão limitada e pessimista
- Perceber outros jumentos
- ANDAR POR NOVOS CAMINHOS E REAFIRMAR A IDENTIDADE: “Ao andar por esses novos caminhos, ele reafirmou sua identidade e reencontrou a alegria e a dignidade de ser jumento.” (p. 12)
- Lançar perguntas sobre a cidade, repensar a igreja.

  • Nova Iguaçu, parábola do planeta
- Contradições, desigualdades e vantagens

  • “O Deus do rico não é o Deus do pobre”
- Teologia (uma atividade subversiva) => 3 movimentos: a rejeição da realidade, a revolução da realidade e a revelação da realidade
- Estrutura fragmentária, divisionista das igrejas, teologia denominacionalista, sem unidade formal.
- Cristãos urbanos experimentando a diversidade, mas não na igreja local.
- “O Deus que apresentamos nos púlpitos de nossas igrejas é um Deus que não se posiciona e um Cristo que não toma partido.” (p. 19) “O Jesus da Bíblia é diferente do Cristo dos púlpitos.” (p. 20)

  • Tirando o paletó e a gravata
- Estilo de vida
- “um diálogo inevitável com os movimentos populares. Ali onde se busca a justiça de forma organizada e insistente, se faz necessária a presença cristã como sal e luz.” (p. 23)

  • A roda grande girando dentro da roda pequena
- Espiritualidade: teologia integral (holística) aberta à ação do Espírito de Deus

  • A hora e a vez do jumento
- Reunir os jumentos da cidade, organizar, fazer balanço do que está dentro da carroça, tirar paletó, andar mais por favelas que por avenidas, proclamar.

domingo, 26 de agosto de 2012

FALE contra o voto de cajado


Fale contra o voto de cajado


As eleições municipais de 2012 prometem ser as mais evangélicas de todos os tempos. E isso, no pior dos sentidos. Assim como no pleito presidencial de 2010, a temática religiosa e o “olho grande” no voto dos evangélicos se desenham como os grandes alvos dos candidatos para as eleições deste ano. 

Uma reportagem publicada no Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, em 05 de Julho, trazia a seguinte chamada: “No Rio, candidatos miram eleitor evangélico e áreas das UPP”. Outra matéria, no dia 27 do mesmo mês, o mesmo jornal denunciava: “Evangélicos usam estrutura de templos em suas campanhas”. Não há dúvida que para interesses duvidosos, os evangélicos são sim, um excelente curral eleitoral. Segundo o Censo de 2010, no estado do Rio de Janeiro, o catolicismo, religião historicamente dominante, tem perdido gradativamente o número de adeptos, chegando a menos de 50% da população. Em pelo menos 11 dos 19 municípios da região metropolitana, foram superados pelos evangélicos em número de fiéis.

Somam-se a estas informações, a triste realidade  de parte do rebanho evangélico: pessoas fortemente orientadas por seus líderes, autoridades eclesiásticas que agem de “má fé” se colocando acima de qualquer ética, e se auto anunciando como porta-vozes de Deus. Um exemplo do resultado disso se vê na pesquisa realizada pelo Datafolha na já tradicional “Marcha para Jesus” deste ano, em São Paulo. Segundo dados apurados, pelo menos um terço dos fieis presentes àquele evento, o maior organizado por evangélicos em todo pais, certamente votariam no candidato indicado por seu pastor. Outros 34% disseram que talvez votassem e apenas 33% disseram que não votariam em candidatos apoiados pela igreja. Ou seja, no total, 65% dos que foram à Marcha Para Jesus são direta ou parcialmente influenciados pelos comandos das igrejas na eleição. 

Reconhecendo esta realidade e interessados em propor discussão e oferecer elementos que, de alguma maneira, sugiram caminhos para transforma-la, integrantes da Rede Fale no Estado do Rio de Janeiro promovem aCampanha Fale Contra o Voto de Cajado (em alusão ao voto de cabresto, sistema tradicional de poder, característico do coronelismo). A mobilização pretende ser uma voz ativa, durante o período eleitoral, contra a utilização dos espaços e posições eclesiásticas para a promoção inescrupulosa da política e manipulação dos rebanhos. As atividades se darão basicamente por meio de comunicação nas redes sociais com imagens, vídeos e textos provocativos e de reflexão, além da realização de fóruns e debates sobre a temática fé e política em datas e locais a serem divulgados.

O material da campanha já está disponível a partir de hoje, e será acrescido gradativamente durante a campanha nos canais da Rede na web (facebooktwittersite e youtube). Como é característica do Fale, todos aqueles que se identificarem com a causa podem e devem participar, replicando o material para o maior número possível de pessoas, reunindo grupos em comunidades locais para orar, promover discussão e reflexão sobre os temas abordados na campanha e até mesmo sugerindo e promovendo outras formas de atuação. 

Ore:

- Pelos pastores e líderes, para que busquem uma vida de acordo com o que pregam sem o uso e abuso de sua função eclesiástica para manipular o rebanho em seus próprios interesses. 

- Pela formação política (conscientização) da sociedade brasileira como um todo,  para que haja libertação das amarras ideológicas construídas ao longo da História, reproduzidas de diversas formas para que tudo permaneça como está.

-Para que os cristãos tenham voz profética para a transformação da realidade na qual estão inseridos, não suportando injustiças de todas as formas, corrupções e mentiras. 

Fale! Porque juntos podemos fazer um barulho construtivo.


FONTE: http://redefale.blogspot.com.br/2012/08/fale-contra-o-voto-de-cajado.html

quarta-feira, 27 de junho de 2012

construir uma montanha no centro da cidade


Para mim, a relação entre fé e cultura é a questão por excelência do nosso ser cristão na atualidade. Pensar fé e cultura como diálogo já é um ganho. Concordo com aquele dito (não muito popular) que diz: “O Evangelho redimir a cultura, a cultura redimir o Evangelho.”.

Marcos Monteiro fala diretamente desse e de outros assuntos nos seus escritos. Aqui, transcrevo um trecho carregado de ironia:   

"A melhor imagem para descrever a difícil tarefa da Igreja atual diante dos desafios da cidade seria compará-la ao ato de transferir uma montanha para o centro de uma grande cidade. A pergunta pastoral seria: Como relacionar o Sermão da Montanha – cerne e coração do evangelho –, com sua paisagem rural e antiquada, às igrejas contemporâneas e urbanas? Apesar de sermos urbanos, nossa mensagem é antiga e rural, nossa teologia é antiga e rural, nossos cânticos são rurais e nossa estrutura ainda reflete um mundo rural. Afirmamos que a fé capaz de remover montanhas é do tamanho de um grão de mostarda, mas a maioria de nós nunca viu um grão de mostarda nem imagina que a mostarda é uma planta. A única mostarda que conhecemos é a que usamos no molho do hot-dog.”

Marcos Monteiro

[trecho extraído do livro Um jumentinho na avenida: a missão da igreja e as cidades, de Marcos Monteiro, publicado em 2007 pela Editora Ultimato]

sexta-feira, 15 de junho de 2012

IGREJAS ECOCIDADÃS/REDE FALE na CÚPULA DOS POVOS!

Amig@s abaixo vai programação das atividades propostas pelo Coletivo Igrejas Ecocidadãs na Cúpula dos Povos.
Como vcs poderão ver, teremos atividades em todos os períodos dos dias 16 a 19.
O Coletivo Igrejas Ecocidadãs e a Tearfund estão contando com a participação de todos e ajuda na realização destas atividades.
Por favor, esforcem-se para prestigiarem nossas atividades.

  • Atividade 1Mesa de Diálogo - Agricultura urbana como fator de desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Palestrantes: Prof. Dr. Ednaldo Michellon da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e coordenador do Centro de Referência em Agricultura Urbana e Periurbana (CERAUP/UEM); Claudio Oliver, mestre em educação, agricultor e pecuarista urbano e coordenador da Casa da Videira.
Data: 16
Horário: 9-11h
Local: Aterro do Flamengo OU Presbiteriana do RJ (Rua Silva Jardim, 23, Centro) - a confirmar

  • Atividade 2Mesa de Diálogo - Crise ambiental e Cristianismo: o papel da Igreja na sustentabilidade.
Palestrantes: Marina Silva (IMAS), Claudio Oliver (Casa da Videira), Ednaldo Michellon (CERAUP/UEM) e Delambre Ramos de Oliveira (Seminário Batista do Sul)
Data: 16
Horário: 15h
Local: Instituto Metodista Bennett (Rua Marquês de Abrantes, 55 - Flamengo)

  • Atividade 3Distribuição cartões Ore/Envie e coleta de assinaturas
Organizadores: Rede Fale
Data: 17
Horário: 9-11h
Local: Aterro do Flamengo

  • Atividade 4Caminhada pela Sustentabilidade nas Unidades de Conservação do Brasil
Organizadores: Igrejas Ecocidadãs do Maranhão (ABAMA E APA)
Data: 17
Horário: 14-15h30
Local: Aterro do Flamengo

  • Atividade 5Seminário - Biodigestor Sertanejo, alternativa sustentável para o semiárido brasileiro
Palestrantes:
Data: 18
Horário: 16h30 - 18h30
Local: Clube Boqueirão (Salão de festas) - Marçal de Souza

  • Atividade 6Territórios do Futuro - Soluções e práticas socioambientais de Igrejas Ecocidadãs brasileiras.
Expositores: ACEV, APA dos Morros Garapenses, A Rocha Brasil, Diaconia, Ecoliber e quem mais desejar compartilhar práticas socioambientais no contexto cristão.
Data: 18 / Horário: 11h30 - 18h30
Data: 19 / Horário: 14-16h
Local: t1g - Maria Quitéria (Aterro do Flamengo)

  • Atividade 7Mesa de Diálogo - Defesa de Direitos: Experiências e Desafios da Juventude Religiosa
Palestrantes: 
Data: 19
Horário: 9-11h
Local: Tenda 3 - Ary Pára-Raios (Aterro do Flamengo)

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Racismo mata, e o nosso silêncio, promove o quê?


Este estudo bíblico participativo foi preparado por André Guimarães, no contexto de sua participação no movimento Aliança Bíblica Universitária do Brasil (ABUB). Chegou a ser publicado no site da ABUB (www.abub.org.br) em um conjunto de materiais todos destinados a uma reflexão sobre o racismo. É um estudo bastante simples, direto e interessante, pois faz um leitura bem "incomum" do texto de Lucas, procurando ver nos discípulos de Jesus um velho desejo de genocídio, de extermínio do outro grupo social e étnico. A transposição dessa questão para os dias de hoje é inescapável: o quanto que nossos discursos institucionais (eclesiásticos, religiosos ou outros) ainda apontam, ainda que sutilmente, a eliminação de um determinado grupo social como solução para nossos problemas sociais e de segurança?

Racismo mata, e o nosso silêncio, promove o quê?

A carne mais barata do mercado é a carne negra
Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Elza Soares – A Carne
Texto-base: Lucas 9. 51-56
51 Ora, quando se completavam os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.
52 Enviou, pois, mensageiros adiante de si. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe prepararem pousada.
53 Mas não o receberam, porque viajava em direção a Jerusalém.
54 Vendo isto os discípulos Tiago e João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir [como Elias também fez?]
55 Ele porém, voltando-se, repreendeu-os, [e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.]
56 [Pois o Filho do Homem não veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.] E foram para outra aldeia.

·        =>  Os mensageiros de Jesus foram discriminados por qual motivo?
·         => Qual foi a reação de Tiago e João diante da discriminação?
·         => Tiago e João, por conta do racismo e preconceito, sugeriram a morte para os samaritanos. Hoje, jovens negros e negras morrem cotidianamente pela mesma discriminação; qual é a sua atitude diante disso?
·         => O que você tem feito para salvar vidas dos jovens empobrecidos vitimas da consumação do fogo do racismo e do preconceito?

(estudo bíblico preparado por André Guimarães)

domingo, 22 de abril de 2012

FALE PELA JUSTIÇA (entrevista com Caio Marçal)

"FALE PELA JUSTIÇA" é o nome do programa 96 do Papo na Rede, gravado com Caio Marçal, Secretário de Mobilização Nacional da Rede Fale. [programa promovido por KOINONIA ONLINE]

São cerca de 40 minutos de conversa provocadora, instigante e informativa sobre uma caminhada de militância não muito óbvia que nós do FALE procuramos desenvolver hoje! Para conhecer a visão que o próprio Caio tem dessa caminhada na qual ele já está há anos, acesse aqui e assista!

O Fale é uma rede evangélica de defesa de direitos, que procura mobilizar igrejas em prol de uma participação social crítica, acompanhando políticas públicas e cobrando da sociedade e do governo transformações sociais efetivas. Procuramos marcar presença em conselhos de direitos, conferências, favelas, igrejas, universidades. Atuamos em rede, nos unimos a pessoas, igrejas e outras organizações de atuação social e política em torno de um objetivo comum: promover vida com dignidade para todos e todas.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

O que é sagrado para Veríssimo

O que é sagrado

por Luís Fernando Veríssimo

Recomendo a quem não leu o artigo publicado na Folha de S. Paulo do último dia 9 de fevereiro, intitulado Ainda o Pinheirinho, do desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo e professor de direito civil José Osório de Azevedo Jr. O artigo trata da violenta ação de reintegração de posse da área chamada de "Pinheirinho", próximo a São José dos Campos, SP, quando 1.500 famílias faveladas foram despejadas e seus precários barracos arrasados num dia. Uma ação que só não teve mortos porque os favelados não tinham como se defender dos tratores e da truculência da polícia, que cumpria ordem da justiça e do executivo estadual.

Escreveu o professor Azevedo Jr.: "O grande e imperdoável erro do Judiciário e do Executivo foi prestigiar um direito menor do que aqueles que foram atropelados no cumprimento da ordem. Os direitos dos credores da massa falida proprietária são meros direitos patrimoniais. Eles têm fundamento em uma lei também menor, uma lei ordinária, cuja aplicação não pode contrariar preceitos expressos na Constituição".

E quais são os preceitos expressos na Constituição que contrariam e se sobrepõem à autorização legal para a terra arrasada, como no caso "Pinheirinho"? O principal deles está logo no primeiro artigo da Constituição: a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República. Um valor, segundo Azevedo Jr., "que permeia toda a ordem jurídica e obriga todos os cidadãos, inclusive os chefes de Poderes". Mas que não deteve a violência em "Pinheirinho". Outro princípio constitucional afrontado foi o da função social da propriedade. Que se saiba, a única função social da área em questão, até ser ocupada por gente à procura de um teto, era como garantia para empréstimos bancários do Nagi Nahas.

É comum ouvir-se falar no "sagrado"direito à propriedade. É um direito inquestionável, mas raramente se ouve o mesmo adjetivo aplicado ao direito do cidadão à sua dignidade. Prestigiam-se os direitos menores e esquecem-se os fundamentais. O maior valor de artigos como o do professor Azevedo Jr. talvez seja o de nos lembrar a espiar a Constituição de vez em quando, e aprender o que merece ser chamado de sagrado.


FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-que-e-sagrado-,836600,0.htm

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ser branco no Brasil

Este texto é de uma professora de Minas Gerais, compartilho-o aqui por motivos óbvios. Espero que apreciem a leitura. A referência bibliográfica segue ao final do texto.


Ser branco no Brasil
por Maria Cristina Soares de Gouvêa

“Grito imperioso de brancura em mim...
Me sinto só branco, só branco
em minha alma crivada de raças”
(Mário de Andrade)

A participação no Programa Ações Afirmativas na UFMG teve para mim um significado refletido, partilhado com os demais colegas, sobre o qual, muitas vezes, me senti impelida a registrar,a pôr em palavras, de modo a melhor compreender o processo. Assim é que a proposta do livro, com o depoimento dos integrantes sobre a experiência de inserção no programa, prontamente me seduziu.

Sendo professora universitária, de origem de classe média, branca, engajar-me nesse projeto significou colocar em permanente questão minha origem sociorracial. Assim, nada melhor do que escrever sobre tal experiência. Mas, cada vez que experimentava pôr em palavras, me vinha uma sensação de inadequação, de estranhamento do próprio texto, de dificuldade em encontrar o tom da escrita, várias vezes desmanchada, interrompida.

Tentando escrever, tinha a sensação de que o tema não me pertencia, de que não tinha direito a falar sobre isso, sendo alguém que nunca viveu a experiência pessoal, quer de exclusão, quer de preconceito, quer de discriminação. Meu lugar social, os valores pelos quais fui formada e as referências identitárias me situaram num universo cultural identificado com os modelos dominantes. E sobre a norma não se reflete, a não ser a partir do desvio. Assim, qual meu direito de falar sobre a experiência de ser negro na universidade brasileira hoje? Qual meu lugar de produção de discurso numa questão que, a princípio, não me pertenceria?

Isso levou-me a pensar sobre a construção social da branquidade no Brasil. É a partir dessa referência identitária que me situo e que me proponho refletir neste texto, buscando resgatar, na minha história pessoal, as marcas sociais da questão da raça no Brasil. Busco também abordar possibilidades de construção de projetos de inserção/permanência dos alunos afro-descendentes nas universidades brasileiras, a partir desse meu lugar de produção discursiva.

Se falar sobre a experiência de ser negro no Brasil é uma questão tão recente, ou marginal, em nossa produção, que ainda provoca desconforto em alguns meios, pensar sobre a branquidade significa estranhar, especialmente no caso da classe média, aquilo que se definiu como padrão. Significa estranhar o modelo cultural dominante e seus ícones, bem como analisar as marcas que o ideário da democracia racial imprimiu nesses grupos sociorraciais.

Tentando resgatar minha vivência, fica claro como o racismo sempre foi tomado como uma categoria estranha ou inadequada para pensar as relações raciais no Brasil, para os grupos brancos. Não somos como os brancos norte-americanos, sul-africanos ou alemães; e a afirmação dessa diferença sempre assumiu um sinal de positividade. Se em nossa história não enforcamos negros, não construímos um aparato legal segregacionista, nem políticas de eliminação de outras raças, não somos racistas, como associamos a esses outros povos.

Ao contrário, nossas referências historicamente celebram a mestiçagem, a herança cultural africana, mesmo que a partir de uma perspectiva folclorizada. O que nos faz brasileiros – o samba, a mulata e o futebol – assume um sentido de celebração da mistura de raças e, especialmente, de valorização cultural africana.

Também nos espaços institucionalizados de transmissão cultural, a representação da positividade da miscigenação racial foi reiteradamente celebrada. Qualquer criança brasileira estudou em livros didáticos em que a imagem do povo brasileiro era apresentada em seus traços físicos como resultado da fusão do português europeu, do indígena autóctone, do negro africano, tendo que decorar que negro + índio = mameluco, índio + branco = cafuzo etc.

Essas imagens oficiais naturalizantes apontavam a convivência interétnica marcada pela soma das diferenças, pela inexistência das tensões, o que, para o branco brasileiro, conferia uma identidade única, positivada em relação a outros países, produzindo uma auto-imagem de cordialidade e tolerância.

No caso das camadas brancas médias, o negro, sujeito concreto, constituía um personagem ausente dos espaços de sociabilidade, habitante das sombras, mudo, permanentemente acompanhado de bandejas, vasilhas, foices, panelas, vassouras, qualquer instrumento de trabalho braçal. Era a partir do lugar do trabalhador desqualificado e ignorante que esse sujeito era situado na cena social urbana brasileira para os grupos brancos de classe média. Ou, na contraface dessa representação excludente, como associado à marginalidade e ao perigo.

Tentando resgatar as imagens de convivência com negros desde a minha infância, na década de 60, relembro mulheres negras, quase invariavelmente usando lenços, ou (quando possuíam dinheiro) alisando o cabelo com produtos baratos, homens negros de cabelos cortados bem curtos, de maneira a esconder as marcas de sua negritude.

Ao mesmo tempo, lembro-me de imitar Elis bradando “Eu quero um homem de cor”, sob inspiração dos movimentos negros norte-americanos que afirmavam: “Black is beautiful”. Difícil compartilhar dessa visão, quando, no Brasil, ser negro constituía à época marca vexatória, padrão estético absolutamente estranho para o ideário de beleza das classes médias brasileiras das décadas de 60 e 70.

A multiplicidade de imagens da presença da cultura negra no Brasil emergia, no período, de maneira multifacetada. Por um lado, uma nascente afirmação da negritude, ligada à denúncia do racismo, identificada com a cultura negra norte-americana, na voz de James Brown, ou abrasileirada em Tony Tornado. Por outro, em expressões da cultura de massa mais próximas de classe média branca brasileira, como os Jackson Five, e, mais especificamente, um Michael Jackson ainda negro. Por fim, em ícones da cultura brasileira ligados à tradição nacional moderna, como Pelé, ou representantes do mundo do samba.

Talvez essa seja a expressão de um racismo à brasileira. O branco brasileiro identifica-se, valoriza e mesmo mimetiza práticas culturais de origem negra, ao mesmo tempo em que se incomoda com o indivíduo negro concreto, socialmente desqualificado. Se Martin Luther King era valorizado em sua luta para que crianças negras e brancas frequentassem os mesmos bancos escolares, não éramos capazes de analisar que, no Brasil, essa cena também inexistia, numa expressão de um racismo envergonhado e ambíguo.

O ideário da democracia racial se entranhou na representação que as camadas médias brancas do País fizeram sobre si mesmas e sobre a nação (ou constituiu a expressão acadêmica dessa representação). Não somos um povo que tem preconceito racial; apenas um povo marcado por uma injustiça social, que historicamente penalizou os negros, fruto da nossa herança escravocrata. Qualquer referência a práticas do racismo à brasileira sempre incomodou profundamente os brancos, sendo compreendidas como manifestações individuais, ou como expressão de tensões singulares.

Hoje, ao me recordar de experiências de construção de uma identidade brasileira, branca, de classe média, penso quando o negro deixou de ser personagem para se tornar sujeito na vivência dessas camadas. É inequívoca tal transformação. E ela explode com maior tensão à medida que tais sujeitos negros, ao denunciarem o histórico de exclusão e discriminação, trazem para a cena política a reivindicação de acesso a um espaço tradicionalmente restrito a camadas médias brancas: a universidade pública, gratuita e de qualidade.

Para mim, a inserção nesse programa tem significado a tensão permanente entre as representações de meu grupo social sobre a universidade como espaço de excelência, da realização do ideário meritocrático, entendido como expressão da sua própria identidade, e o confronto com as experiências e trajetórias dos alunos negros da UFMG, marcadas pela luta constante por um lugar improvável.

Tal tensão era explícita nas entrevistas com os candidatos a bolsas e cursos do Programa Ações Afirmativas. Nesse momento, as estatísticas sobre a desigualdade racial no acesso à educação superior no Brasil tomavam corpo, tinham nome, rosto e voz e se repetiam nos relatos dos candidatos. Suas histórias se sucediam nas entrevistas reiteradas com espantosa regularidade, contadas por sujeitos que naturalizavam um construto social que lhes foi dramático.

Tinha diante de mim o retrato daqueles que conseguiram furar o cerco das estatísticas. Repetia-se a narração de trajetórias em que a universidade se afirmava como superação dos possíveis, ruptura com a história familiar, e demonstrava a dramaticidade do que era vivido por aqueles alunos. Invariavelmente, eram egressos de famílias que nunca chegaram à universidade, vindos de escolas públicas, que, no momento da escolha profissional, optaram por cursos academicamente menos valorizados, mas com maiores chances de aprovação, ou alunos que entraram na universidade, alguns anos depois de terminado o ensino médio e de tentativas frustradas de seleção, estando já inseridos no mundo do trabalho, em ocupações pouco valorizadas e mal remuneradas.

Algumas frases se repetiam nos discursos: “não imaginava que podia entrar na universidade”; “achava que a UFMG não era para mim”; “eu não ia ter chance” etc. Tais frases entravam em confronto com minha própria trajetória, filha e neta de médicos, egressa de escolas privadas que, aos 17 anos, após terminar o ensino médio, me defrontei com a decisão sobre qual carreira queria escolher, entre os cursos oferecidos pela UFMG, meu lugar “natural” de inserção, fruto do meu mérito individual.

Como usar o conceito de mérito, compreendido como atributo individual, inscrito num sujeito e expresso em sua produtividade, quantitativamente aferível e regularmente constituído, na apreensão do desempenho escolar desses sujeitos? Esse alunos negros revelavam uma trajetória de exclusão e de introjeção de uma identidade marcada pela desqualificação de suas competências cognitivas, que nos faz questionar o lugar do conceito de mérito na organização da vida acadêmica.

Dois anos depois de iniciado o programa, revejo aqueles alunos candidatos a bolsas, com os quais me defrontei nas entrevistas. É visível a diferença, expressa tanto num desempenho acadêmico destacado (fato apontado pelos professores de seus institutos) quanto num aumento do capital cultural proporcionado pela convivência com o cotidiano acadêmico, pelo acesso a bens culturais, como livros, filmes, e, mais que tudo, pela construção de uma identidade positivada no exercício da vida acadêmica.

Se, ao entrar na universidade, tais alunos manifestavam uma defasagem em seu desempenho, fruto do não acesso a informações e experiências culturais significativas, academicamente valorizadas, a inserção em programas de correção dessas desigualdades permitiu, em pouco tempo, compensar ou mesmo superar tais defasagens.

Através do programa, constituiu-se um grupo marcado por uma identidade étnica, não restrita aos alunos da UFMG. Nos ciclos de debates promovidos pelo programa, inicialmente, a composição do auditório chamava a atenção de todos que passavam. Tantos negros na plateia, seria um projeto de extensão?

Tal audiência, que se mostrou frequente nos seis debates promovidos ao longo de um ano, era composta, m grande parte, por participantes de movimentos negros organizados, grupos culturais, jovens de periferia. Esse público, normalmente ausente dos espaços da universidade brasileira, demandava pensar e falar sobre sua história e experiência de ser negro no Brasil.

Mesmo sabendo do pequeno alcance dessas experiências, acredito que a reflexão sobre sua realização pode contribuir na construção de referenciais para políticas acadêmicas de inserção/permanência de alunos afro-descendentes nas universidades brasileiras. Nesse sentido, gostaria de trazer algumas contribuições para esse debate:

• Um programa de inserção/permanência de alunos afro-descendentes nas universidades deve se fundar não na promoção do acesso individual, mas na construção de “comunidades de aprendizagem” definidas pela sua identidade étnica. É importante que o aluno compreenda que sua trajetória pessoal constitui expressão das possibilidades de construção de trajetórias socialmente postas a partir de seu pertencimento étnico.

• Tal comunidade de aprendizagem deve ter em vista partir não apenas do sucesso escolar stritu sensu do aluno, mas da reflexão permanente sobre sua identidade, do contato sistemático com a produção acadêmica sobre as relações raciais.

• As experiências desenvolvidas no interior da academia precisam dialogar com os movimentos sociais e culturais constituídos por indivíduos, que podem não ter como projeto a inserção na universidade, mas demandam refletir sobre sua própria identidade.

• É fundamental que os professores afro-descendentes das universidades brasileiras, independentemente de sua área de atuação, assumam o papel de sujeitos dessa discussão. A constituição de referências identitárias socialmente positivadas é imprescindível para que os alunos superem um sentimento presente de autodesqualificação, fruto de sua história pessoal e familiar.

• Mesmo centradas no espaço de ensino superior, as políticas de Ações Afirmativas das universidades precisam dialogar com os outros níveis de ensino, em que a exclusão e, principalmente, a produção de uma identidade negativa dos grupos afro-descendentes operam com maior força. É fundamental que a universidade articule projetos de formação de professores do ensino fundamental e médio que contemplem a discussão das relações raciais na educação.

• Falta ainda maior clareza na definição das políticas de Ações Afirmativas, no que se refere ao acesso/permanência no ensino superior. A adoção pura e simples de um sistema de cotas para afro-descendentes, importando parte de um modelo norte-americano, sem maior aprofundamento quanto aos aspectos políticos e técnicos dessa alternativa, pode retroceder a discussão, ao invés de fazer avançar. Se as relações inter-raciais e as expressões do racismo são historicamente diferentes no contexto brasileiro e norte-americano, a definição de uma política coerente de Ação Afirmativa, fundada em mecanismos variados de correção das desigualdades, deve necessariamente contemplar nossa singularidade.

• A discussão sobre o acesso de grupos historicamente discriminados ao ensino superior não poder ser apreendida como um problema apenas daqueles que o viveram. Fica o perigo de que essa questão fique restrita a guetos, um problema de outros, que não diz respeito a grupos historicamente favorecidos, como os brancos das camadas de maior poder aquisitivo. Ao contrário, pensar um projeto de nação, que seja mais justa e democrática, implica produzir estratégias de correção de nossas alarmantes desigualdades. A elite intelectual brasileira, majoritariamente branca, inserida nas universidades, não pode fugir a essa questão.

Como professores universitários e pesquisadores, especialmente da área de Ciências Humanas e Sociais, cabe a nós não apenas nos posicionar politicamente quanto a essa problemática, mas também produzir e socializar conhecimentos e práticas que contribuam para superar nossa história de exclusão, em nossos espaços de atuação.
Voltando a Mário de Andrade:

“... Mas eu não posso não me sentir negro nem vermelho!
De certo que essas cores também tecem minha roupa arlequinal...
Mas eu não me sinto negro, mas eu não me sinto vermelho,
Me sinto só branco, relumeando caridade e acolhimento,
Purificado na revolta contra os brancos, as pátrias, as guerras,
as posses, as preguiças e ignorâncias!
Me sinto só branco agora, sem ar neste ar-livre da América!
Me sinto só branco, só branco em minha alma crivada de raças.”
(Trecho de “Improviso do Mal da América”, 1928)

Referência bibliográfica:
GOUVEA, M.C.S. Ser branco no Brasil. In: GOMES, Nilma Lino; MARTINS, Aracy Alves (orgs.). Afirmando direitos: acesso e permanência de jovens negros na universidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.