terça-feira, 31 de março de 2009

Desenvolvimento Comunitário (III)

Marcel Camargo (CADI) – aula proferida em 20/03/2009

Marcel do CADI, em uma de suas aulas sempre bem humoradas.
-
-
TIPOS DE AJUDA

[Referência a I Timóteo 5: 3-16 – aqui aparecem critérios específicos para ajudar alguém, dentro de um contexto também específico.]

1. Ajudando as pessoas a sobreviverem
- Definição: Assistência ou socorro emergencial
- Processo/Estratégia: Pré-avaliação, levantamento de recursos, suprimentos e distribuição.
- Resultado esperado: Suprimento das necessidades imediatas, sobrevivência.

2. Ajudando as pessoas a se tornarem melhores
- Definição: Reabilitação ou recuperação
- Processo/Estratégia: Treinamento de habilidades
- Resultado esperado: Retorno ao estágio inicial, reconstrução.

3. Ajudando as pessoas a agirem em seu próprio favor
- Definição: Desenvolvimento ou transformação
- Processo/Estratégia: Avaliação, discussão, detecção de necessidades, interação, facilitação envolvimento da comunidade
- Resultado esperado: Fortalecimento da comunidade, auto-gestão, auto-suficiência.

***

> Podemos comparar o Evangelismo com a Assistência, e o Discipulado com o Desenvolvimento Comunitário.
> Nesta perspectiva, o desenvolvimento comunitário tem a ver com as intenções de Deus para a comunidade.
> O paradigma de curto prazo deve ser abandonado, se queremos transformações estruturais.

***

PRINCÍPIOS DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

1. Visão integral do ser humano
- reconhecimento da realidade complexa do ser humano
- bio-psico-sócio-espiritual
- o esquema de Gênesis 1 [a existência do homem se dá em relação]
- a espiritualidade cristã responde ao homem todo
- a espiritualidade cristã incide sobre a vida da comunidade
- cuidado com a teologia da “isca” [é preciso rejeitar a visão que muitas vezes se tem nas igrejas de usar a prática da assistência/ação social para alcançar as pessoas para Jesus]
2. Visão equilibrada de intervenção
3. Identificação com a comunidade
[Filipenses 2: 5-8]
- Reconhecimento dos saberes locais: “Categorias nativas de classificação”
- Siga o exemplo de Cristo > Seja servo > Seja semelhante > Seja humano > Identifique-se
4. Ênfase nos relacionamentos
5. Participação da comunidade
6. Paternidade X Paternalismo
7. Trabalho preventivo
- Ações pontuais/emergenciais + Investimento em ações preventivas = Ampliação exponencial dos resultados de transformação comunitária.
8. Trabalho em equipe
[Gênesis 11: 1-6]
9. Começando com o que se tem
- O maior recurso da comunidade são as próprias pessoas.
- Toda comunidade, por mais precária que seja, tem muitas coisas boas que Deus já plantou ali.
- Tudo que começa grande, começa deformado.
10. Excelência
- é discreta, profunda, densa, radical.
- é focada no outro
- diferença fundamental entre excelência e perfeccionismo.

***

IGREJA LOCAL COMO PARCEIRA NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO

- Igreja = mobilização
- Contextualização
- Cuidado pastoral
- Facilidade de fluir dos dons espirituais
- O púlpito como plataforma de transformação [o púlpito não é inimigo, o púlpito também é instrumento para a transformação]

Perigos:
Ø O projeto como um departamento da igreja
Ø Confusão na gestão
Ø Especificidades ministeriais diferentes (mas não concorrentes)
Ø Sodalidades (missões, ONGs, etc.) e modalidades (igreja local)

[Lucas 10: 25 - A justiça de Deus é mais ampla que o mero direito]

O conteúdo desta aula também é apresentado no livro O reino entre nós: transformação de comunidades pelo evangelho integral, de Maurício J. S. Cunha e Beth A. Wood, publicado pela Editora Ultimato.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Carta Aberta da Pastoral da Juventude Rural

"Nós, jovens camponesas e camponeses, participantes da VI Assembléia Nacional da Pastoral da Juventude Rural, vindos dos estados do Pará, Mato Grosso do Sul, Goiás, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas, Pernambuco, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, acolhidos no chão sagrado da Bahia de Antonio Conselheiro e dos lutadores de Canudos, somos sujeitos de uma ação pastoral que privilegia a vida digna no campo e transformação da sociedade, pautados no Evangelho de Jesus Cristo e na vivência das primeiras comunidades cristãs.
-
Acreditamos que a vida na roça deve ser respeitada e construída cotidianamente como uma luta em favor da justiça e da paz, por isso declaramos que:
-
Denunciamos o agronegócio e seu projeto de morte, que escraviza trabalhadores, destrói o meio ambiente, prioriza a exportação, fomenta a fome no Brasil produzindo commodities, reforça as relações de exploração e o atrasado latifúndio.
-
Denunciamos também os aliados deste sinistro projeto: o Poder Judiciário, que fecha os olhos às desigualdades sociais, ousa fechar escolas itinerantes e criminalizar os pobres que se organizam; a Mídia, que confunde a opinião publica distorcendo fatos para legitimar a dominação das elites; o Estado Brasileiro, com suas políticas de financiamento do agronegócio e das transnacionais que saqueiam nossas riquezas.
-
Ousamos resistir a essa ofensiva das elites, propondo nos organizar para enfrentar as raízes dos problemas sociais que afetam a juventude. Convocamos toda a sociedade brasileira a se por em marcha contra a violência estrutural, física e simbólica que atinge os/as jovens trabalhadores/as, pobres e negros/as deste país. Juntamente com as Pastorais da Juventude do Brasil estaremos atuando no nosso meio, em escolas, nas comunidades para enfrentar as políticas de extermínio do Estado e das Elites.
-
Anunciamos juntamente com outras forças da Igreja e da Classe Trabalhadora, a construção de um Projeto Popular para o Brasil, que garanta vida digna a todos e todas, com uma Reforma Agrária ampla e massiva, com Políticas Agrícolas que priorizem a produção de alimentos para o povo brasileiro, com Políticas que enfrentem o desemprego e a desigualdade social.
-
Como discípulos/missionários de Jesus, nos comprometemos em:
  • Trabalhar a importância da juventude e o seu protagonismo
  • Ajudar os jovens da roça para que assumam a Identidade Camponesa
  • Fortalecer nossa participação na Pastoral Orgânica
  • Contribuir na construção de um novo jeito de ser Igreja (articulando fé e vida)
  • Fortalecer a identidade e a caminhada da PJR Brasil
  • Contribuir na transição do modelo agrícola convencional implementando a agroecologia e a cooperação.
  • Participar da construção do Projeto Popular.
  • Despertar e cultivar a cultura camponesa.
  • Participar da construção e efetivação da Educação do Campo e no campo.
  • Assumir a questão de gênero
Jovens: há uma esperança para teu futuro. Engajemo-nos na construção de um outro mundo possível.
-
Catu – BA, 29 de março de 2009."

sábado, 28 de março de 2009

Desenvolvimento Comunitário (II)

Anotações sobre a capacitação ocorrida em Araçariguama - SP do dia 16 ao dia 20 de Março de 2009.

Sueli Catarina (Visão Mundial) – aula proferida em 17/03/2009

Sueli da Visão Mundial


Visão Mundial: no final dos anos 1980 começou a repensar a prática de assistência e passou a trabalhar com o conceito de desenvolvimento transformador.

DESENVOLVIMENTO TRANSFORMADOR

- É um processo e são ações através dos quais crianças, adolescentes, jovens, famílias e comunidades se movem em direção à plenitude da vida com dignidade, justiça, paz e esperança.

Princípios:
- Baseado na comunidade, embasado na fé crista e focado na criança. (TRIPÉ)
- Empoderamento de meninas e meninos como agentes de transformação.
- Relacionamentos restaurados com Deus através da fé em Jesus Cristo, relacionamentos restaurados e igualitários dos membros da comunidade entre si e também com outros; e relacionamento protetor com o meio ambiente.
- Interdependência e relacionamentos potencializadores da comunidade com diferentes parceiros de desenvolvimento em níveis local, nacional regional e global.
- Transformação de estruturas e sistemas

Meta Maior (baseada no TRIPÉ):
- Contribuir para o desenvolvimento e o empoderamento de uma rede nacional de crianças, adolescentes e jovens, ajudando-os a alcançar vida em plenitude, e junto com os quais podemos contribuir para a transformação do Brasil.

PDA – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DE ÁREA

A principal estratégia de intervenção para o fomento do desenvolvimento local utilizada pela Visão Mundial é o PDA, Programa de Desenvolvimento de Área.
É uma forma concreta de intervenção que gera impacto transformador numa determinada área, incorporando conceitos de organização, mobilização, participação e auto-gestão comunitária, visão crítica, prática e coletiva.

PROGRAMA
[Diferença entre programa e projeto: o programa traz outras articulações, agrega diversos setores.]
- Conjunto articulado de ações, projetos, iniciativas, articulações, recursos técnico-financeiros, metodologias, políticas e sistemas programados em um determinado tempo, com objetivo de desencadear processos de transformação integral.
- Capacidade de agregar a multisetorialidade da intervenção, implicando em uma coordenação orgânica entre as iniciativas dos diversos setores, devendo ser orientado por uma proposta comum, que todas as ações se submetam a um desenho intencional.

DESENVOLVIMENTO
- Processo pelo qual crianças, adolescentes e jovens, suas famílias e comunidades se movem em direção à integralidade da vida com dignidade, justiça e esperança. Focado no bem-estar da criança.

ÁREA
- Espaço onde se constrói um processo de desenvolvimento, mais que um espaço físico, a Visão Mundial a define como o espaço geográfico delimitado, habitado por contingente humano empobrecido, que tenha uma história, cultura, problemática e interesses comuns.

Três aspectos fundamentais:
- Delimitação (conhecer o contexto)
- Integração (todos os atores sociais são importantes)
- Protagonismo local (soluções prontas não são impostas) [exemplo bíblico da multiplicação dos pães e dos peixes]

Princípios do PDA:
- Protagonismo comunitário – As pessoas são atores principais e as ações visam o empoderamento da comunidade e de todos os seus membros para que eles sonhem, planejem, monitorem e avaliem os programas e projetos.
- Sustentabilidade – Os programas de Desenvolvimento Transformador devem buscar mudanças sustentáveis econômica, social e ambientalmente.
- Holismo – Devem refletir uma compreensão física e espiritual do ser humano; do mundo no qual vivemos e do modo como nos desenvolvemos.
- Transformação Mútua – Busca a transformação contínua de todos os envolvidos, incluindo o nosso pessoal, as comunidades, igrejas, ONGs, governos, etc.
Características:
- Apropriação do projeto por parte da comunidade, tornando-se cada vez mais gestora dos processos desencadeados.
- Coordenação e articulação com outras entidades, igrejas, ONGs e governo, para ação conjunto e integralizada.
- Alta qualidade de serviços, programa e sistemas desenvolvidos.
- Impacto na vida individual e comunitária dos grupos segundo os valores cristãos tais como: Justiça, Respeito à diversidade, Fraternidade, Solidariedade, Paz, etc.
- Compreensão por parte dos doadores do contexto das comunidades e vice-versa.
- Financiamento múltiplo (VM, outras ONGs, governos, sociedade)
- Capacidade de proposição e controle social de políticas públicas.
- Capacidade de responder ao contexto local, relacionando com o contexto global.

(Falou até aqui bastante da dimensão conceitual do PDA, é preciso tratar agora da dimensão programática.)

DIMENSÃO PROGRAMÁTICA

Requisitos básicos:
- Relação macro-micro.
- Formulação e implementação de políticas públicas.
- Construção de parcerias.
- Prevenção e controle social – trabalhando mais as causas que os efeitos (sintomas) dos problemas.
- Definir ações a partir de diagnóstico social.
- Ampla participação da comunidade – esta deve ser sujeito ativo do processo dos PDAs.
- Ações efetivas – que provoquem o impacto desejado
- Atenção prioritária a crianças e adolescentes.

[COALIZÃO – MOBILIZAÇÃO – ARTICULAÇÃO]

Na estrutura de um PDA temos várias organizações envolvidas:
Entidades religiosas que trabalham em parceria, conselho fiscal, conselho comunitário, e conselho gestor.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Desenvolvimento Comunitário (I)

Do dia 16 ao 20 de Março de 2009, estive no Vale da Bênção, em Araçariguama, no Estado de São Paulo, participando de uma capacitação sobre DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIO.

O evento recebeu cerca de 60 pessoas de diversas igrejas e instituições e foi promovido pela AEBVB (Associação Evangélica Beneficente Vale da Bênção), pelo CADI (Centro de Assistência e Desenvolvimento Integral) e pela Visão Mundial, contando também com o apoio da RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social).

Lá pudemos ouvir e refletir em grupo acerca de uma série de conceitos e práticas já existentes na área do Desenvolvimento Comunitário. Pudemos também colocar em prática alguns dos conhecimentos adquiridos a partir de simples princípios de ação comunitária reunidos sob o nome de PROJETO SEMENTE. Nesta parte prática experimentamos uma breve intervenção numa comunidade próxima ao Vale.

a turma toda reunida



Espero, em próximas postagens, poder partilhar um pouco do que aprendi lá naqueles dias. Compartilharei anotações de aulas, pensamentos e impressões sobre a vivência prática.

Aqueles dias foram um momento muito importante de confirmação de uma série de questões que já têm me tocado apontando para um tema específico: espero, deste modo, poder focar, nas próximas postagens, no tema do PROTAGONISMO COMUNITÁRIO.


Por enquanto, vale a pena conhecer um pouco do trabalho de cada uma dessas organizações acima citadas:



-

quinta-feira, 12 de março de 2009

Saneamento Ambiental: desafio missionário urbano

por Flávio Conrado e Marcus Vinícius Matos
-
O “saneamento” é um dos desafios que se relacionam com a noção holística de sustentabilidade e que refletem processos nos quais a combinação de ausência de políticas públicas e altos índices de desigualdade social produz impactos negativos sobre a saúde e o meio ambiente. Renomeado “saneamento ambiental”, o desafio se refere ao acesso à água encanada e potável, ao tratamento de esgoto sanitário, à coleta de lixo e ao tratamento de resíduos em aterros sanitários.
-
Em resposta ao chamado bíblico de orar e procurar o bem-estar (“shalom”) da cidade (Jr 29.7), as igrejas poderiam começar a agir de forma prática de várias maneiras...
-
Para ler o texto completo vá até o blog do Flávio Conrado aqui.
-
Ou acesse a última edição da Revista Ultimato aqui.
-

domingo, 8 de março de 2009

FALE na Taquara

Início do trabalho de divulgação da REDE FALE na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

A divulgação na Zona Oeste foi uma necessidade levantada por Elizabeth Alves, participante do FALE-RIO e moradora da Taquara. Esta divulgação da rede na Zona Oeste também marca o início da nossa caminhada enquanto grupo local do FALE no Rio de Janeiro.

-

Se você deseja saber mais sobre a Rede Fale ou deseja apresentar a rede à sua igreja ou comunidade, entre em contato: pedrojustica@gmail.com.